"Eu celebro [a vitória da Dilma], porque o Brasil é um dos países mais importantes da América Latina, e o rumo da região estava alinhado com o Brasil", afirmou Lucía Topolansky, reeleita senadora do Uruguai nas eleições do último domingo e companheira do presidente uruguaio José Mujica
Por Maíra Vasconcelos*, do GGN
A frase foi dita pela senadora Lucía Topolansky, companheira do
presidente uruguaio José Mujica, perseguida e mantida presa por treze
anos na época da ditadura militar no Uruguai. No domingo (26), ela
esteve presente na sede do partido Frente Amplio (FA) para acompanhar o
resultado do primeiro turno das eleições em seu país. "Eu celebro (a
vitória da Dilma Rousseff), porque o Brasil é um dos países mais
importantes da América Latina, e o rumo da região estava alinhado com o
Brasil", afirmou. Após os resultados das eleições, Lucía foi reeleita
senadora.
Além de comemorar o resultado das eleições no Brasil, Toponlansky
comentou os episódios panfletários oposicionistas da imprensa no país, e
os comparou a posturas da época da ditadura militar, caso da revista
Veja, que poucos dias antes das eleições adiantou a saída da revista de
domingo para sexta-feira, e arrematou a matéria de capa com uma
publicação contra Lula e Dilma sobre as denúncias de desvio de recursos
da Petrobrás, que o Tribunal Superior Eleitoral considerou ilegal.
Toponlansky deixou claro sua convicção de que o Brasil necessita
discutir uma lei de meios.
"Tinha um 6% de vantagem apesar do que a imprensa fez, pouco antes da
veda eleitoral, isso é algo tremendo do ponto de vista da ética. Acho
que os brasileiros deveriam pensar sobre uma lei de meios. Isso não se
faz em democracia, se faz em uma ditadura", defendeu Lucía. Logo, um
jornalista comentou à candidata que no Uruguai não aconteceu o mesmo que
no Brasil, em relação a cobertura da imprensa. No entanto, para
Topolansky, a imprensa uruguaia mudou sua forma de cobrir as eleições
quando destinou pouco espaço e excluiu, por exemplo, suas ações de
campanha, focando apenas nos presidenciáveis.
"No Uruguay não aconteceu a mesma coisa, mas a imprensa excluiu muita
gente, como a mim, fui excluída da imprensa nos dois últimos meses. Nós
fizemos um ato imenso, no domingo passado, e apenas se esclareceu na
segunda-feira, uma [matéria] fininha, porque não podiam publicar menos.
Apenas seguiram os candidatos presidenciais e eliminaram todo o resto, e
me disseram, porque eu perguntei a muitos veículos, falaram que a ordem
era seguir nada mais que a fórmula presidencial. Então, isso é uma
novidade no Uruguai", criticou.
Sobre a campanha do Frente Amplio, até este primeiro turno das
eleições, Lucía considera que a movimentação e os ânimos melhoraram nas
últimas semanas, e voltou a enfatizar sobre a falta de cobertura da
imprensa. "A campanha foi diferente, foi uma campanha muito fria a
princípio, esquentou no último mês, e ainda uma imprensa que apenas
seguiu a fórmula presidencial, e ao resto da movimentação não lhe deu
nem dois centímetros de espaço", destacou Topolansky, que diz não saber o
que faltou para que a campanha estivesse mais entusiasmada.
"Nós fomos crescendo, eu pude participar de praticamente todos os
atos de enecerramento de campanha, e foram todos bons. Não sei o que
faltou, porque militar, militamos até morrer, capaz que morremos um
pouco mais".
Lucía não quis analisar, nem mesmo comentar, qualquer resultado
premilinar que aos poucos era divulgado pelos diferentes canais de
televisão, no momento em que a imprensa estava reunida na sede do
partido Frente Amplio. E a todos os jornalistas que aproximavam-se da
candidata, Topolansky explicava que era preciso esperar o resultado
final, antes disso seria precipitada qualquer consideração. O segundo
turno está marcado para o dia 30 de novembro, entre Tabaré Vázquez (FA),
que terminou com 47%, e o representante da direita, Lacalle Pou
(Partido Nacional), com 31%.
Um jornalista perguntou se ela estava tranquila frente aos resultados
dessa eleição. Lucía ressaltou sua postura de mulher sempre lutadora,
portanto, também sempre tranquila. "Sempre tranquila porque sou uma
lutadora, e sempre estarei lutando em qualquer circunstância que se dê".
(*) Todas as respostas de Lucía Topolansky contidas no texto
acima foram dadas a colegas jornalistas, dos quais estive próxima, ontem
(domingo, 26), na sede do partido Frente Amplio. Eu não lhe fiz
qualquer pergunta. Desde o início desta viagem a Montevideo,
entrevistá-la era das coisas que mais gostaria de poder realizar. Assim,
aproximei-me de Lucía para solicitar-lhe uma entrevista em outro dia e
com mais tempo, ao que ela mostrou-se bem disposta, "anote o número do
meu celular", e disse para chamá-la na terça ou quarta-feira. E assim,
possivelmente, o farei.
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